2014 - Curitiba e a Bacia do Rio Belém.
Fonte: Retratos do Belém. A trajetória de um rio urbano. Disponível em: http://retratosdobelem.blogspot.com.br/search/label/Equipe. Acesso em 30 de novembro de 2014.
2014 - Detalhamento da Bacia do Rio Belém.
Fonte: Retratos do Belém. A trajetória de um rio urbano. Disponível em: http://retratosdobelem.blogspot.com.br/search/label/Equipe. Acesso em 30 de novembro de 2014.
A Bacia Hidrográfica do Rio Belém atravessa o centro de Curitiba e mais 36 bairros (dos 75 existentes atualmente na cidade). Possui 21 km de extensão, área de 88 km² e 64 km de trechos de rios. A porção sul desta bacia, onde se localizam os bairros Guabirotuba, Hauer e Boqueirão, constitui-se de grande área inundável, alvo de inúmeras ações da prefeitura ao longo do século XX.
1857 - Mapa de Curitiba.
Fonte: Casa da Memória / Diretoria do Patrimônio Cultural / Fundação Cultural de Curitiba.
No mapa, o diminuto núcleo urbano de Curitiba, desenvolvido no entorno do Pátio da Matriz (1-atual Praça Tiradentes), está cercado pelos alagadiços dos rios Ivo (2) e Belém (3). Os banhados e os miasmas que envolvem a cidade serão os principais problemas nos próximos 100 anos. À direita, acima, o Rio Belém forma um grande charco, conhecido mais tarde como o tanque do Bittencourt (4) onde, com o intuito de sanear o local, será construído o Passeio Público. Logo abaixo, no encontro dos rios Ivo e Belém (5), há outra área crítica (próxima a atual Praça Senador Correa), que receberá contínuas intervenções.
1876: referindo-se à saúde pública o Presidente da Província do Paraná descreve Curitiba:
Adolpho Lamenha Lins, s.d.
Fonte: Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.
“Os matadouros quase dentro da cidade, e entregues ao pouco zelo de seus donos, o cemitério público á curta distância, e colocado a cavaleiro da cidade; os grandes pântanos que a cercam principalmente formados pelos rios Ivo e Belém, cujos leitos obstruídos quase sempre são depósitos de matérias orgânicas em decomposição; a falta de limpeza das ruas.” 71
Embora ciente dos problemas que Curitiba enfrenta – e das soluções possíveis – pouco se fez para corrigi-los, uma vez que havia muitas necessidades e escassos recursos para executá-las.
1873. Panorâmica de Curitiba.
Fonte: ROSA, Sá Barreto J. G. Curitiba. Curitiba: Habitat, 1954.
1883. Panorâmica de Curitiba.
Fonte: Casa da Memória / Diretoria do Patrimônio Cultural / Fundação Cultural de Curitiba.
No final do século XIX, a região do Guabirotuba – que já abriga o Prado de Corridas e os barracões da Empresa Sanitária – é escolhida, após calorosa discussão, para receber o novo Matadouro Municipal de Curitiba. Para alguns, o local está relativamente próximo ao centro da cidade (“4.750 quilômetros, a partir da Rua 7 de setembro” 72, ou ainda, “3 quilômetros, a partir da linha do quadro urbano”73); constitui-se de terrenos alagadiços e não possui água em abundância, exigida na atividade do abate de animais. Para outros, as estradas de ligação (rodagem e linha de bondes) do matadouro à cidade direcionariam parte do crescimento de Curitiba, viabilizando, alguns anos mais tarde, uma nova e importante ligação com São José dos Pinhais.
A implantação destes equipamentos urbanos (Matadouro Municipal, Prado de Corridas etc.) – que atraem atividades afins e núcleos habitacionais de funcionários – e a construção das vias de ligação com o centro de Curitiba são fundamentais para a ocupação do Guabirotuba. No entanto, as dificuldades técnicas de implantação de infraestrutura no local impõem, na primeira metade do século XX, um ritmo lento de urbanização. Inúmeras intervenções tentam contornar o problema estrutural do solo argiloso, altamente poroso, que, junto ao curso do Rio Belém, transforma a região no “mais baixo dos banhados”.74
1901 (22 de abril): os problemas do solo.
Fonte: Jornal A Republica. op. cit. Anno XVI, n.° 92. Curityba: 23 de abril de 1901. p.1.
1905: a retificação do Rio Belém.
Fonte: Jornal A Republica. op. cit. Anno XX, n.° 37. Curityba: Typ. d’A Republica, 13 de fevereiro de 1905. p.2.
1906: o poluído Rio Belém.
1906 - Reclamação sobre os despejos de sangue do Matadouro Municipal.
Fonte: Jornal A Noticia. op. cit. Anno II, n.° 180. Coritiba: 6 de junho de 1906. p.2.
1908-1909: as obras no Rio Belém.
1908 - Obras.
Fonte: Jornal A Republica. op. cit. Anno XXIII, n.° 285. Curityba: 5 de dezembro de 1908. p.2.
Em 23 de novembro de 1908, o Prefeito de Curitiba oficia ao Presidente do Estado, a “necessidade de rebaixar o leito do Rio Belém até a barra do Iguaçu, para dar escoamento ás águas que em tempos de chuvas alagam diversas ruas da cidade”. 75 Quase dois meses depois, o Diretor de Obras Públicas Municipais, engenheiro Ernesto Guaita, faz uma avaliação sobre as inundações da cidade:
1909 - Trecho do relatório do engenheiro Ernesto Guaita ao Prefeito de Curitiba em que destaca os problemas de alagamento em Curitiba, principalmente na parte baixa da cidade.
Fonte: Jornal A Republica. op. cit. Anno XXIV, n° 14. Curityba: 18 de janeiro de 1909. p.2.
1914: melhoramentos de Curitiba
“Curitiba está localizada numa bacia, formada pelos dois arroios Ivo e Belém, que, figurando em ângulo agudo, vão se reunir na parte mais baixa, além da estrada de ferro. Grande parte da cidade está assente em terreno úmido e podre, composto de espessa camada vegetal. São os antigos banhados de este e sudeste da cidade, sobre os quais se assentou grande extensão da parte nova de nossa urbs.”76
1914: na Mensagem Prefeitural...
Cândido Ferreira de Abreu - Prefeito de Curitiba em dois períodos: 1892-1894 e 1913-1916.
Fonte: Prefeitura de Curitiba.
“Prosseguem com energia a canalização, retificação e cobertura dos rios, estando já retificada parte do rio Belém; procedeu-se igualmente à limpeza do rio Ivo e dos córregos do Bigorrilho e Água Verde.”77
1932: na Mensagem Prefeitural...
Jorge Lothario Meissner - Prefeito de Curitiba entre 1932 e 1937.
Fonte: Prefeitura de Curitiba.
"Com o projeto [de retificação do leito] confeccionado e aprovado, o percurso deste rio fica reduzido de dez quilômetros e meio, ficando evidentemente aumentado o declive de seu leito e, portanto, o escoamento das suas águas.
Como serviço complementar foi feita a limpeza e desobstrução do seu leito, entre o Largo Bittencourt e o Matadouro, iniciando-se a retificação propriamente dita em princípios de Outubro do ano findo [1932], trabalhos estes que com a intensificação imprimida, deverão estar concluídos durante os primeiros meses do corrente ano.
Ficará assim sanada grande parte da zona urbana vitima até aqui das enchentes periódicas."78
1932: mais uma retificação no Rio Belém.
Fonte: Jornal Correio do Paraná. Anno II, n.° 238. Curitiba: 1 de março de 1933. p.1 e 8.
Fonte: Jornal Correio do Paraná. Anno II, n.° 270. Curitiba: 8 de abril de 1933. p.1.
Fonte: Jornal Correio do Paraná. Anno II, n.° 270. Curitiba: 8 de abril de 1933. p.8.
Fonte: Jornal Correio do Paraná. Anno II, n.° 284. Curitiba: 26 de abril de 1933. p.1.
1941: Alfred Agache e o Rio Belém.
“Todo aquele que se interessa pela urbanização de Curitiba topará, de início, com um sério problema. Refiro-me aos rios que a banham, como o Belém e o rio Ivo. São cursos d’água muito irregulares e sua retificação, portanto, redunda num pesado ônus aos cofres do Município. (...) O plano em vista é o do aproveitamento das grandes curvas dos rios para a construção de lagos. Assim, evitar-se-ia a retificação que aludi." 79
1941: “prosseguindo no plano de saneamento da Cidade, que teve inicio praticamente na Administração Dr. Candido Ferreira de Abreu, com a retificação do rio Belém, na Rua Mariano Torres, e continuada, em 1935, pela Administração Dr. Lothário Meissner, com a retificação do Baixo Belém até o rio Iguaçu, canalizou-se um trecho do rio Belém de 142 metros na rua já referida e 156 metros dentro do Passeio Público.” 80
Fonte: Boletim PMC. Ano I, n. 1. Curitiba: Prefeitura Municipal, janeiro e fevereiro de 1942.
1943: no início da década de 1940, a região do Guabirotuba apresenta baixa concentração populacional. Seus aproximadamente 800 habitantes estão majoritariamente distribuídos ao longo da Estrada Curitiba-São José dos Pinhais. A justificativa para a baixa densidade demográfica é a adversidade geográfica, pois ali se encontram os terrenos alagadiços da cidade, alvo das intermináveis intervenções da prefeitura.
"A zona inundável do baixo Belém.
Há no baixo Belém, uma zona de fraca declividade sujeita a inundações.
Essas enchentes resultam do represamento das águas do Belém pelas do Iguaçu.
Sua solução implica em obra de vulto, que é a drenagem da parte do Iguaçu e do trecho inundável do Belém, dando a esses rios a secção de vazão necessária.
Aconselhamos que sejam fixadas as cotas das maiores cheias e a zona por elas compreendida, isto é, a zona inundável, e que seja a mesma privada de edificações, estradas, etc., pois ela constituirá leito temporário do rio enquanto não for feito o saneamento citado."81
1960: o perigo das enchentes e os dejetos da cidade.
Fonte: Jornal Correio do Paraná. Ano 1, n.° 289. Curitiba: 8 de maio de 1960. p.3.
1961: o problema continua...
Fonte: Jornal Correio do Paraná. Ano III, n.° 547. Curitiba: 15 de março de 1961. p.7.
1965: 28% da população curitibana não é atendida pela rede de esgoto.
"Os emissários seguem dois rumos: a oeste, em Santa Quitéria parte do esgoto desagua no rio Barigui; o restante, a leste, desagua no canal do rio Belém, sendo levada ao rio Iguaçu. (...) Levanta-se a hipótese da oportunidade de uma rede independente para o Boqueirão e Salgado Filho, apesar das dificuldades existentes nessa região, para qualquer serviço público, em virtude da pequena declividade e das condições do solo"82
"Em particular, a extensão da cidade nos bairros do Boqueirão e Vila Hauer em terrenos alagadiços e, em boa parte, aluvionais acarreta dificuldades nas obras de drenagem e maior oneração das próprias construções."83
"O problema criado pelos loteamentos que ameaçam levar o casario urbano para leste da BR-2, em solo mal drenado e de difícil compactação, constitui um problema exigindo uma opção: em nossa proposta prevemos condições de habitabilidade cômoda para os já residentes nesta zona (Salgado Filho, Vila Hauer, etc.); mas não estimulamos a ocupação futura e intensiva desta área, preferindo propiciar uma ocupação orgânica, dos setores sul e sudoeste, ao longo das linhas estruturais já lançadas. Procuramos deste modo, diminuir ao máximo o transito transversal à BR-2, já hoje seriamente afetando a segurança desta rodovia."84
Fonte: Jornal Correio do Paraná. Ano VI, n.° 1760. Curitiba: 15 de maIo de 1965. p.3.
Fonte: Jornal Correio do Paraná. Ano VI, n.° 1771. Curitiba: 29 de maIo de 1965. p.5.
Fonte: Jornal Correio do Paraná. Ano VI, n.° 1803. Curitiba: 7 de julho de 1965. p.5.
1981: ocorre a urbanização no trecho sul do rio Belém, que abrange a área entre a BR 116, junto ao Horto Municipal do Guabirotuba, até o bairro de Uberaba. A ação compreende a construção de uma avenida junto ao rio, Rua Canal Belém, com seis quilômetros de extensão, que facilita o acesso ao bairro e elimina o problema das enchentes no Guabirotuba.85
Fonte: Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba - IPPUC.
71 Relatório do Presidente da Provincia do Paraná, Adolpho Lamenha Lins, para Assemblea Legislativa, em 15 de fevereiro de 1876. Curityba: Typ. Viuva Lopes, 1876. p.8-9.
72 Jornal A Republica. op. cit. Anno XIV, n.° 199. Curityba: 5 de setembro de 1899. p.1.
73 Jornal O Municipio. op. cit. Anno II, n.° 53. Curityba: 10 de dezembro de 1898. p.1.
74 Idem, Anno II, n.° 53. Curityba: 10 de dezembro de 1898. p.1.
75 Jornal A Republica. op. cit. Anno XXIV, n.° 7. Curityba: 9 de janeiro de 1909. p.1.
76 In: Jornal Diario da Tarde. Anno XVI, n.° 4586. Coritiba: 14 de janeiro de 1914. p.1.
77 Mensagem do Prefeito Candido Ferreira de Abreu, em 15 de abril de 1914. In: Jornal A Republica. op. cit. Anno XXIX, n° 89. Curityba: 17 de abril de 1914. p.2.
78 Mensagem do Prefeito Jorge Lothario Meissner. op. cit. 1932. Curityba: fevereiro de 1933. p.21-22
79 GARCEZ, Luiz Amando. Curitiba: Evolução Urbana. Curitiba: Imprensa Universitária da Universidade Federal do Paraná, 2006. p. 74.
80 Boletim PMC. Ano I, n. 1. Curitiba: Prefeitura Municipal, janeiro e fevereiro de 1942. p.51-53.
81 Boletim PMC. Ano II, n.12. Curitiba: Imprensa Gráfica Paranaense, nov. e dez. 1943. p.85.
82 PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA/IPPUC. Plano Preliminar de Urbanismo. Curitiba: junho de 1965. 2ª edição. p. 86.
83 Idem. p. XIII.
84 PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA/IPPUC .op. cit. p.147.
85 Soluções para um “problema” chamado Belém. In: Retratos do Belém. A trajetória de um rio urbano. Disponível em: http://retratosdobelem.blogspot.com.br/search/label/4%20Contexto%20hist%C3%B3rico. Acesso em 11 de dezembro de 2014.